– Já pode falar?
– Calma, isso é uma entrevista. Eu faço as perguntas, você responde.
– Tudo bem.
– A senhora diz ter sido abduzida por extraterrestres.
– Exato.
– Conte, então, essa sua experiência.
– Eu estava tranqüila, descansando em meu apartamento, quando me liga um antigo namorado, daqueles que você conhece nas festinhas dos amigos (ai, como é bom relembrar os tempos de mocinha recatada). Ele propôs uma viagem sem rumo; uma proposta bem indecorosa pra mim, uma quarentona, solteira, que vive isolada em seu apartamento quarto e sala. Seria bom mudar a rotina um dia, não é verdade? Eu, de mochilinha nas costas, parecendo uma menina colegial indo pra sua primeira aventura com o namoradinho novo. Era assim que eu me sentia. Ele apareceu de camisa floral, aberta, mostrando seu belo peitoral cabeludo, gel no cabelo, formando um topete invejável, e, ainda, uma bermuda de surfista garotão. Tava um gato! Fiquei tão maravilhada que nem notei seu Uno Mile de lateral amassada e maçaneta quebrada. Imagine, a porta só ficava fechada com um arame ridículo preso a ela.
– Vamos direto ao assunto?
– Tudo bem. Então, pegamos a Estrada do Côco, viajando totalmente sem imaginar onde iríamos parar, até a gente ver uma placa escrito “Massarandupió”. “Esse não é aquele lugar onde tem praia de nudismo?”, ele me perguntou. Respondi que sim, era ali mesmo. Tremi. Pensei que ele queria ir lá; imagina, eu morreria de vergonha. Mas ele disse assim: “Isso me deu uma boa idéia. Vamos procurar uma praia deserta, pra praticarmos nudismo, só nós dois”. Aí eu tremi de verdade. Que descarado! Mas, no fundo, eu tinha adorado a idéia. Dirigimos mais alguns quilômetros, até ele virar, sem avisar, numa estradinha de terra, sem placa indicando nada. Mais adiante, havia uma cerca de propriedade particular meio caída. Ele, com tudo, passou por cima. Chegamos, enfim, a uma praia. Totalmente deserta, como ele queria. Tirou da mala um monte de trambolho e disse: “Vamos montar uma barraca”. Ficamos duas horas, no meio do nada, montando a maldita barraca, comprada em qualquer buraco aí, sem nem sequer um manual de instruções decente. Bem, passando esse estresse, fizemos um acordo de passar esse dia e o próximo de forma naturalista, ou seja, sem roupa alguma. Fiquei tão animada com a idéia que minha timidez sumiu, e, assim, fui tomar um banho de mar delicioso, totalmente pelada. Esqueci minhas celulites, meus peitos meio caídos, pequenas banhas pulando de todos os lados. Tava me sentindo uma coroa gostosona!
– E os alienígenas, senhora, onde estavam?
– Isso só aconteceu pela noite, quando íamos dormir.
– Claro, coisas sobrenaturais acontecem apenas à noite.
– Isso eu não sei, mas comigo foi já na escuridão total, às duas da manhã. Estávamos dormindo, quando ouvi um barulho estranho fora da barraca, parecendo algum tipo de sirene. Meu parceiro nem se mexeu, ficou ali roncando feito um animal. Tava com medo, mas resolvi sair pra verificar. Não achei nada pra me cobrir, então saí como estava, toda exposta.
– Quer dizer, então, que a senhora foi abduzida pelada?
– Exatamente. Saí da barraca, mas não conseguia enxergar nada; não havia nenhuma luz, em lugar algum. Comecei, então, a gritar, perguntando se tinha alguém por perto. Nenhuma resposta. Tentei de novo, mas continuei ouvindo apenas o sopro do vento. Fui, devagar, voltando pra barraca, já morrendo de medo, até perceber que já não havia ninguém lá dentro e, muito menos, alguma coisa. Tudo sumiu. Meu ex-namorado, minhas roupas, mochila, carteira, celular, óculos; nada sobrou. Aliás, sobraram eu e a barraca, apenas. Foi quando, vinda do céu, uma forte claridade me fez fechar os olhos. Depois, apaguei completamente.
– Então, tinha um disco voador bem em cima de você?
– Provavelmente, né? Se não, como teriam me sugado pra cima?
– Continue.
– Quando acordei, ainda zonza, percebi estar num local estranho, muito metalizado e cheio de luzes piscantes. Eu tava no chão, imobilizada apesar de nenhuma corda a me amarrar e, ainda, com uma dor de cabeça terrível. Fiquei olhando em volta, até enxergar alguém (ou algo). Assim, eu vi um alienígena. Apesar dos três olhos e pele verde, lembrava um humano. E, ainda, parecia estar pelado, já que eu via, no meio do corpo, algo parecido com um pênis. Foi aí que me assustei ainda mais, vendo a criatura se aproximar e se encostar em mim, como se fosse um homem atrás de sexo.
– Quer dizer que o alienígena abusou sexualmente de você?
– Isso! Eu fui estuprada por uma criatura verde e gosmenta!
– E o que aconteceu depois?
– Ele, ou aquilo, me colocou num aparelho enorme, parecendo um elevador gigante em formato de cilindro. Depois, jogou em mim um líquido estranho, parecendo óleo de cozinha, mas mais viscoso. Fechou todo o aparelho e sumiu. Passados alguns minutos, tudo começou a sacudir, uma luz forte apareceu, fazendo aumentar minha dor de cabeça e tontura. Desmaiei e não vi mais nada. Já pela manhã, quando acordei, estava de volta à mesma praia de antes. Entrei em desespero e saí feito uma louca, procurando algum lugar seguro, com vida humana por perto.
– Foi, então, por isso que te viram correndo pelada e gritando num povoado ali perto?
– Por isso mesmo.
– Mas, o que justifica o seu namorado morto encontrado na praia?
– Foram os alienígenas! Eles o mataram!
– Última pergunta: como a senhora se sente presa, indiciada por homicídio?
Um comentário:
Gostei muito da narração da senhora e tal, mas não gostei do final, tudo se encaixou de forma estranha, alienígena mesmo hehehehe.
acho que faltou algo mínimo pra puxar legal o final, embora ele esteja bpm - reli agora. ou talvez meu raciocínio seja lerdo.
parabéns de novo!
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