quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Ondulações

Estava nua. Integralmente nua. Pele branca; pálida, porém bela. Mostrava-se sensual, valorizando seu corpo miúdo, de seios rijos e pequenos; pêlos pretos e macios entre as pernas; rosto delicado e angelical. Destacava-se, no entanto, não a nudez em si, mas o nu de uma grávida. De 5 meses talvez, de barriga proeminente. Seus olhos verdes revelavam um grande olhar de tristeza ou, melhor, de mistério. Linda mulher. Pena estar morta.

Eu era novo naquele tipo de trabalho. Em meu currículo, apesar disso, constava diversos nomes eliminados com sucesso. Matara diversas figuras, passando por padres, prostitutas e banqueiros. Seria difícil imaginar, no entanto, ser pago para assassinar tão bela mulher – grávida, deve-se ressaltar. Costumava matar sem piedade, remorso ou dor; mas, dessa vez, senti-me atordoado. Por isso, deixei de lado a pistola. Matei-a por estrangulamento. Afinal, não seria justo estragar tal obra de arte divina. Depois, despi-a completamente.

Lembrei-me de um outro caso. Era madrugada de sábado quando invadi uma casa no Rio Vermelho. Choquei-me pela facilidade em pular o muro, arrombar a portaquase que silenciosamente – e invadir um dos quartos, onde estava um casal. Um homem extremamente gordo, de bigode e aparentando calvície transava loucamente com uma mulher negra, de seios fartos, esmagados pela gordura de seu parceiro. Ela vestia, apenas, um avental de empregada doméstica, enquanto ele se mostrava assustadoramente nu. Matei-o e assumi seu lugar no sexo.

Não. Aquela não fora a situação mais inusitada. Esta é.

Sentei-me na cama, ao lado da mulher nua. Admirava-a inteiramente, dos pés delicados aos cabelos pretos ondulados. Não sentia desejo sexual, mas, de fato, uma forte compaixão. Sentimento estranho para um assassino, acostumado com a dor e a morte. Estaria sendo imaturo? Talvez.

Passei a acariciá-la. Senti seus pés, pernas muito lisas, coxas macias. Passei por seu sexo, muito úmido para uma moça morta. Percebi as ondas do ventre de grávida, os seios e o pescoço fino. Parei no rosto. Este era o mais belo. Beijei-a, ternamente.

Estava apaixonado.

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