segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Pobre pecadora!

Padre, pequei.

– Pode começar, minha filha.

Não tenho sido fiel a Deus como deveria.

– Explique melhor.

Eu uso camisinha!

...

Muito grave... realmente gravíssimo. Mas, posso te ajudar. Sua vaga para os céus ainda estará garantida, se, claro, fizer uma graciosa doação de, digamos, algumas fazendinhas.

Padre, não estamos mais na Idade Média.

Tudo bem, minha filha. Então, você pode contribuir para a “campanha do ar condicionado”, ajudando refrescar a santa casa do Senhor.

Graças a Deus!

Amém.

domingo, 30 de dezembro de 2007

Dores

O despertador tocava. Minha dor de cabeça aumentava. Como sempre, ao acordar, sentia-me mais exausto do que ao dormir. Porém, desta vez, não lembrava o que havia feito na noite anterior; ao pensar, a cabeça novamente pesava. Enxaqueca ou culpa? Muito trabalho, pouca diversão, deve ser isso. Talvez mais alguns minutos de sono resolvam.

Uma hora depois acordo. Dessa vez, mais assustado do que exausto. Levantei-me rapidamente. Em toda minha vida nunca havia chegado atrasado ao trabalho; atrasei-me, pela primeira vez, por culpa de minha mulher. Mas por que diabos ela não veio me acordar? Parei de resmungar e fui logo colocar uma roupa. Novamente senti a cabeça pesando. Meu café da manhã será acetil salicílico; afinal, nada melhor do que começar o dia lembrando das aulas de química do ensino médio.

Nenhum remédio, no entanto, reverteria a situação a qual vivenciaria daqui a alguns segundos. Ao entrar no corredor de minha casa, paralisei-me, ficando completamente chocado. Minha mulher, deitada no chão, nua, pálida, ensangüentada. Morta.

Primeiro, vem o impacto; depois, a tristeza; e por fim, a vingança. O impacto já descrevi; a tristeza já é conhecida de todos; pularei para a vingança. Esta, fez-me esquecer o emprego, dispensar a polícia e agir sozinho. Quem quer que fosse o responsável, jurei matá-lo.

A partir daquele dia minha vida transformou-se em ódio. Fazia buscas e investigações, analisava friamente todas as pistas. Quanto menos dormia, mais dor de cabeça sentia. Um dia encaixaria os fatos e encontraria o culpado.

Este dia foi numa sexta-feira à noite. Estava dirigindo tranqüilo, em ruas bem vazias. Passava por uma ponte, quando, de súbito, senti a cabeça pesando; depois, dores bem fortes. Parei o carro de qualquer maneira e saí. Foi quando imagens vieram à mente. Cenas daquela noite, no corredor. Uma briga. Uma faca. Sangue.

Encaixei os fatos. Joguei-me da ponte.